A Tate Britain prepara-se para apresentar a primeira grande exposição dedicada a explorar as biografias entrelaçadas e as trajetórias profissionais dos paisagistas mais venerados da Grã-Bretanha: JMW Turner (1775–1851) e John Constable (1776–1837). Assinalando o 250.º aniversário do nascimento de ambos, a mostra, intitulada Turner and Constable: Rivals and Originals (Turner e Constable: Rivais e Originais), traça o desenvolvimento das suas carreiras em paralelo. A exposição postula que o ambiente crítico do século XIX, que frequentemente colocava os artistas um contra o outro, impulsionou-os em direção às visões radicais e originais que desafiaram as convenções artísticas do seu tempo.
Origens divergentes
A narrativa começa por contrastar as origens díspares dos artistas, que moldaram fundamentalmente as suas abordagens distintas ao meio. Nascidos com apenas um ano de diferença, as suas vidas iniciais tomaram rumos muito diferentes. JMW Turner, nascido na densa metrópole de Londres, foi um prodígio com astúcia comercial que expôs pela primeira vez na Royal Academy em 1790, com apenas 15 anos. Aos 18 anos, já havia produzido pinturas a óleo ambiciosas, como a recentemente descoberta The Rising Squall, Hot Wells, from St. Vincent’s Rock, Bristol.
Em nítido contraste, John Constable nasceu numa família próspera na aldeia de East Bergholt, em Suffolk. Sendo em grande parte autodidata, demonstrou um compromisso feroz em aperfeiçoar técnicas artísticas e não expôs na Royal Academy até 1802. Em vez de procurar fama imediata, Constable realizou viagens de estudo para criar as suas primeiras aguarelas, optando por um desenvolvimento mais lento e metódico do seu ofício. Apesar destas diferenças, a exposição sugere que ambos os homens estavam unidos por uma ambição partilhada de elevar o género da arte paisagística no meio da sua crescente popularidade.
Metodologias e o “brilho” da pintura
A mostra analisa como ambos os artistas estabeleceram identidades distintas dentro do competitivo mercado de arte através de metodologias divergentes. Constable construiu a sua reputação com representações da paisagem de Suffolk — especificamente o Dedham Vale e o rio Stour — esboçando frequentemente a óleo ao ar livre. A sua secção inclui artefactos como a sua caixa de pintura e cadeira de desenho, permitindo aos visitantes traçar o desenvolvimento do seu traço e o seu manuseamento radical da tinta, destinado a adicionar um “brilho” (sparkle) característico à tela. De notar é um grupo de estudos de nuvens de Constable, reunido para ilustrar a sua convicção de que o céu constituía a principal fonte do impacto emocional de uma pintura, uma filosofia que sustenta as poderosas paisagens celestes das suas telas monumentais de quase dois metros.
Inversamente, a prática de Turner caracterizou-se por extensas viagens pela Grã-Bretanha e Europa, durante as quais preenchia cadernos de esboços com estudos rápidos a lápis. Estas excursões forneceram inspiração para temas sublimes, como The Passage of Mount St Gothard (1804), e facilitaram oportunidades comerciais para a realização de gravuras baseadas nas suas aguarelas. A exposição explora o desenvolvimento de Turner de aplicações originais de tinta e o seu foco na representação da luz e do poder bruto da natureza.
Fogo e água
Uma componente central do estudo reside no exame da rivalidade — tanto real quanto construída — entre os dois pintores. Na década de 1830, os críticos frequentemente apresentavam-nos como adversários devido às diferenças marcantes nos seus trabalhos. A narrativa destaca a exposição da Royal Academy de 1831, onde Constable, servindo no comité de seleção, jogou com essa dinâmica posicionando a sua obra ao lado da de Turner.
A justaposição de Caligula’s Palace and Bridge de Turner e Salisbury Cathedral from the Meadows de Constable levou os críticos contemporâneos a comparar as obras a “fogo e água”. Esta polémica contrastou o calor banhado pelo sol da cena mítica de Turner com a atmosfera húmida da paisagem britânica de Constable. A instalação atual coloca estes estilos distintos frente a frente para demonstrar como, apesar das polaridades estilísticas, ambos os artistas conseguiram estabelecer a paisagem como um género de grande escala e importância primordial.
Raridades e obras tardias
A exposição apresenta mais de 190 pinturas e obras em papel. Entre as inclusões notáveis encontra-se The Burning of the Houses of Lords and Commons (1835) de Turner, cedido pelo Cleveland Museum of Art e inédito na Grã-Bretanha há mais de 60 anos. Também está exposta The White Horse (1819) de Constable, que não era exibida em Londres há duas décadas. Obras tardias ocupam um lugar de destaque, incluindo Hampstead Heath with a Rainbow (1836) de Constable, que entrelaça memória pessoal e histórica, e Ancient Italy – Ovid Banished from Rome de Turner, não mostrada em Londres há mais de 50 anos.
O percurso termina com um novo filme apresentando artistas contemporâneos como Frank Bowling, Bridget Riley, George Shaw e Emma Stibbon, que refletem sobre o legado duradouro das visões concorrentes de Turner e Constable.
Informações sobre a exposição
Turner and Constable: Rivals and Originals estará patente ao público de 27 de novembro de 2025 a 12 de abril de 2026.

