Ai Weiwei: Provocação e Pixelização na Lisson Gallery

Ai Weiwei, Wheat Field with Crows
Ai Weiwei, Wheat Field with Crows (2024). © Ai Weiwei Studio, courtesy Lisson Gallery.
09/12/2024 14:51

Na mais recente exposição de Ai Weiwei na Lisson Gallery em Londres, o artista chinês continua a desafiar as expectativas, mesclando o histórico com o contemporâneo de maneiras que são tão intrigantes quanto potencialmente problemáticas. A mostra, intitulada “Ai Weiwei: A New Chatpter” – um erro tipográfico intencional que parece mais uma tentativa forçada de ser espirituoso do que uma crítica genuína à era digital – apresenta uma coleção de obras que oscilam entre o provocativo e o previsível.

A peça central da exposição, “F.U.C.K.”, é uma instalação que utiliza mais de 9.000 variedades de botões afixados em macas militares da Segunda Guerra Mundial. Enquanto a obra certamente chama a atenção, é difícil não questionar se o uso de linguagem chocante não é uma tática já desgastada no arsenal de Ai. A justaposição de objetos industriais com artefatos bélicos é certamente intrigante, mas a mensagem parece diluída pela grandiosidade do gesto.

Adjacente a esta peça, encontra-se “Go Fuck Yourself”, onde seções superiores de tendas militares são costuradas com botões. A obra pretende comentar sobre a polarização política e o discurso contemporâneo, mas corre o risco de simplificar demais questões complexas, reduzindo-as a uma frase de efeito.

A reinterpretação de Ai da obra-prima de Paul Gauguin “De Onde Viemos? O Que Somos? Para Onde Vamos?” utilizando blocos de brinquedo é talvez o momento mais interessante da exposição. A inclusão de elementos contemporâneos como drones e referências ao bombardeio de Hiroshima cria uma tensão fascinante entre o clássico e o moderno. No entanto, a auto-representação de Ai como uma figura aborígene dentro desta obra levanta questões sobre apropriação cultural que o artista parece não abordar completamente.

A transição para obras em menor escala nos níveis inferiores da galeria marca uma mudança bem-vinda na exposição. “Iron Helmet Secured by Toy Bricks”, apresentando um capacete de soldado alemão enferrujado dentro de uma estrutura de blocos de brinquedo brancos, oferece um momento de reflexão mais sutil sobre guerra e memória.

Enquanto Ai Weiwei continua a provocar e desafiar, esta exposição por vezes parece reciclar ideias já exploradas em trabalhos anteriores. A utilização de materiais como botões e blocos de brinquedo, embora visualmente impactante, corre o risco de se tornar um truque repetitivo em vez de uma inovação genuína.

É inegável que Ai Weiwei permanece uma figura importante no cenário artístico contemporâneo, capaz de gerar discussões sobre temas cruciais de nossa época. No entanto, esta exposição deixa a sensação de que o artista pode estar se aproximando perigosamente de um ponto onde a provocação se torna previsível e o comentário político, superficial.

A exposição “Ai Weiwei: A New Chatpter” estará em exibição na Lisson Gallery, em Londres, de 7 de fevereiro a 15 de março de 2025. Apesar de suas falhas, continua sendo uma mostra que merece ser vista, nem que seja para questionar o papel do artista como comentarista social na era da informação instantânea e da polarização extrema.