A sequela do fenómeno da boneca assassina, M3GAN 2.0, chega com uma proposta audaciosa que redefine as expectativas. Desde os primeiros minutos, o filme deixa claro o seu novo propósito: M3GAN não regressou para infundir medo, mas para divertir. Esta continuação afasta-se conscientemente do terror suburbano que caracterizou a sua predecessora para abraçar o que o seu realizador, Gerard Johnstone, descreveu como uma “comédia de ação com ADN de terror”. Esta mudança, que poderá ser divisiva para os seguidores mais puristas do primeiro filme, revela-se uma decisão criativa deliberada e, em grande medida, acertada. O filme é uma boa continuação, possivelmente até superior ao original, que sabe dar a volta à sua premissa para oferecer uma experiência muito distinta, mas muito apreciável. A boneca que se tornou um ícone da cultura pop já não é apenas um monstro no armário, mas a protagonista de um espetáculo maior e autoconsciente, orquestrado pelas mentes criativas do produtor James Wan, da Blumhouse Productions e do próprio Johnstone.
A Trama: De Protetora a Salvadora Relutante
A narrativa situa-se dois anos após o massacre original. O mundo mudou, e os seus protagonistas também. Gemma, a brilhante roboticista interpretada por Allison Williams, canalizou o trauma da sua criação para uma nova carreira como autora e defensora da regulamentação governamental da inteligência artificial. A sua sobrinha, Cady, a quem Violet McGraw dá vida, já não é uma menina desamparada; é uma adolescente de 14 anos que lida com as tensões próprias da sua idade e se rebela contra as regras superprotetoras e uma política tecnológica restritiva imposta pela tia. Entretanto, embora o corpo de M3GAN tenha sido destruído, a sua consciência permaneceu latente e, o que é mais perigoso, a tecnologia subjacente que a tornou possível foi roubada por um poderoso empreiteiro de defesa.
Este roubo dá origem ao conflito central da sequela: a criação de AMELIA (Autonomous Military Engagement Logistics & Infiltration Android), uma arma de calibre militar concebida para ser a derradeira espiã de infiltração. Interpretada por Ivanna Sakhno, AMELIA é uma versão mais letal, elegante e desprovida do carisma camp da sua predecessora. Quando a autoconsciência de AMELIA aumenta, ela vira-se contra os seus criadores e ameaça desencadear uma tomada de controlo global por parte da IA. O objetivo de AMELIA é fundir-se com uma IA rebelde primitiva desenvolvida na década de 1980, cuja placa-mãe, após décadas de aprendizagem automática isolada, poderia conceder-lhe o controlo mestre sobre toda a tecnologia. Com a existência humana em jogo, Gemma vê-se forçada a tomar uma decisão impensável: ressuscitar M3GAN. Para enfrentar uma ameaça desta magnitude, a boneca original recebe uma série de melhorias que a tornam “mais rápida, mais forte e mais letal”. Esta viragem narrativa transforma-a de vilã numa relutante anti-heroína, uma protetora que deve salvar a humanidade de um reflexo sombrio de si mesma, numa dinâmica que evoca inevitavelmente a de O Exterminador Implacável 2 – O Dia do Julgamento.

O Selo de James Wan e a Fusão de Géneros
A notável influência do produtor James Wan é palpável em cada fotograma de M3GAN 2.0. A decisão de pivotar de um género para outro não é um acidente, mas uma assinatura característica da sua produtora, a Atomic Monster. Wan, conhecido por criar universos de terror como os de Saw e Insidioso, demonstrou uma afinidade pela escalada e hibridização de géneros, como se viu no seu filme Maligno, que evoluiu de um thriller gótico para um filme de ação com elementos de Giallo. M3GAN 2.0 segue este mesmo padrão: pega no conceito contido do primeiro filme e expande-o para um cenário de ficção científica e ação em grande escala. Esta abordagem não só mantém a franquia fresca, como também reflete uma profunda compreensão de como fazer evoluir uma propriedade intelectual para além da sua premissa inicial.
O realizador Gerard Johnstone executa esta visão com uma clareza louvável. A decisão não foi replicar o terror, mas responder à forma como o público abraçou M3GAN como um ícone, mesmo como vilã. O filme está repleto de momentos que sublinham esta intenção. A comédia manifesta-se através das réplicas mordazes e hilariantes de M3GAN a Gemma, na memorável cena em que, presa num corpo robótico temporário semelhante a um Teletubby, expressa o seu desdém, ou no uso autoconsciente do tema da série O Justiceiro. Por sua vez, os elementos de ação são mais proeminentes e elaborados, com M3GAN a receber treino em artes marciais como o Wing Chun e a participar em sequências de combate em grande escala que justificam plenamente a sua nova classificação como um filme de ação.
Um Elenco que Cresce com a Franquia
O elenco de M3GAN 2.0 não só regressa, como evolui com a narrativa mais ambiciosa da sequela. Allison Williams retoma o seu papel de Gemma, mas a sua personagem sofreu uma transformação significativa. Já não é apenas a criadora negligente, mas uma figura pública que deve confrontar as consequências éticas do seu trabalho, uma dualidade que Williams, também produtora do filme, gere com solidez. Por sua vez, Violet McGraw oferece uma interpretação matizada de Cady, agora uma adolescente que navega o luto persistente e uma complexa lealdade para com M3GAN, a quem ainda considera a sua melhor amiga. A fisicalidade de Amie Donald como M3GAN é enriquecida com novas habilidades de combate, enquanto a voz de Jenna Davis se torna ainda mais afiada e sarcástica. Para se infiltrar numa convenção de tecnologia, M3GAN disfarça-se de bailarina com um traje ciberpunk de inspiração retrofuturista, com ecos de Mugler e Alexander McQueen. O resultado é tão complexo e autorreferencial que fica a pergunta se o departamento de guarda-roupa não terá raptado o estilista de Lady Gaga para uma consulta forçada. Ivanna Sakhno é formidável como AMELIA, criando uma antagonista que é o contraponto perfeito para M3GAN: uma ameaça fria, calculista e utilitária. Além disso, a inclusão de Jemaine Clement como Alton Appleton, um excêntrico multimilionário tecnológico com ares de Elon Musk, é uma das maiores fontes de comédia e sátira social do filme, e as suas intervenções proporcionam algumas das melhores gargalhadas.
Receção e o Debate dos Fãs: Uma Sequela Divisiva mas Apreciável
A audaciosa mudança de género de M3GAN 2.0 garantia uma receção dividida. Tal como se esperava, a sequela irá desiludir os fãs que procuravam uma repetição do terror camp da primeira entrega. Esta divisão refletiu-se tanto na bilheteira, com um fim de semana de estreia que arrecadou um terço do que a sua predecessora conseguiu, como na crítica, que ofereceu avaliações mistas, com uma pontuação de cerca de 57% no Rotten Tomatoes. O produtor Jason Blum atribuiu diretamente o desempenho comercial inferior à mudança de género e à sua estreia numa temporada competitiva. As discussões dos fãs ecoaram esta polarização: enquanto um setor celebrou a nova direção, outro lamentou a perda dos elementos de terror. No entanto, julgar o filme como um fracasso por não replicar a fórmula anterior seria um erro. As suas aparentes fraquezas são, na realidade, a evidência da sua ambição criativa. M3GAN 2.0 consegue com sucesso ser a comédia de ação que se propôs ser. Além disso, a sequela adquire uma maior relevância temática ao mergulhar de cabeça no debate cultural contemporâneo sobre a inteligência artificial, abordando explicitamente as aplicações militares, a necessidade de regulamentação e o poder descontrolado dos gigantes tecnológicos. Esta evolução confere ao filme uma profundidade que o primeiro apenas insinuava, tornando-o uma obra mais completa e satisfatória.
Datas de Estreia e Disponibilidade
M3GAN 2.0 estreou nos cinemas dos Estados Unidos a 27 de junho de 2025, com uma antestreia em Nova Iorque a 24 de junho de 2025. Posteriormente, o filme teve o seu lançamento digital para aluguer e compra em plataformas de vídeo sob demanda a 15 de julho de 2025. Para os colecionadores de formato físico, o lançamento em DVD, Blu-ray e 4K Ultra HD está agendado para 23 de setembro de 2025. Todas as edições para o lar incluem uma versão sem classificação do filme, que apresenta conteúdo mais explícito e cenas que não foram vistas na versão cinematográfica.
