Dept. Q chega à Netflix: Matthew Goode enfrenta os casos arquivados mais sombrios de Edimburgo num thriller do criador de ‘Gambito de Dama’

A crua adaptação em nove partes de Scott Frank dos romances best-seller de Jussi Adler-Olsen promete uma jornada psicologicamente complexa por mistérios por resolver, protagonizada por um Matthew Goode transformado.
29/05/2025 3:20 AM EDT
Dept. Q - Netflix
Dept. Q - Netflix

O frio das ruas antigas de Edimburgo serve de pano de fundo a uma nova narrativa que se desenrola com a estreia mundial do thriller criminal, Dept. Q. Os nove episódios da emocionante série já estão disponíveis para visualização imediata na Netflix. Este lançamento assinala um momento significativo para os fãs de dramas policiais, ansiosos por mergulhar num mundo criado por Scott Frank, o aclamado criador de Gambito de Dama e Godless.

No cerne deste sombrio e atmosférico drama processual está Matthew Goode, que assume o papel do “insolente, mas brilhante” Inspetor Chefe Carl Mørck. A série inspira-se nos romances dinamarqueses de sucesso internacional “Departamento Q” de Jussi Adler-Olsen, prometendo uma rica tapeçaria de suspense e uma narrativa focada nas personagens. A série combina a célebre mestria de Frank como realizador e argumentista, a presença convincente de Goode no ecrã, a imensa popularidade do material original de Adler-Olsen e a enorme visibilidade da plataforma global da Netflix. Os sucessos anteriores de Frank com a Netflix habituaram o público a esperar produções de alto calibre, e Goode, um ator respeitado e versátil, já está a gerar expectativa pela sua interpretação transformadora de um detetive profundamente atormentado. A base de fãs existente dos romances do “Departamento Q”, juntamente com o reconhecimento da crítica às anteriores adaptações cinematográficas dinamarquesas, amplifica ainda mais a antecipação em torno desta nova interpretação.

O mundo sinistro de Dept. Q

A série mergulha os espectadores na vida problemática do Inspetor Chefe Carl Mørck. Outrora um detetive de topo, Mørck é agora um homem “atormentado pela culpa” após um tiroteio horrível que matou um colega e deixou o seu parceiro, o Inspetor Chefe James Hardy, paralisado. Este evento traumático serve como catalisador para o seu desmoronamento profissional e pessoal. Como revela a sinopse oficial da Netflix: “O Inspetor Chefe Carl Mørck é um polícia brilhante, mas um colega terrível. O seu sarcasmo afiado não lhe granjeou amigos na polícia de Edimburgo.”

A sua queda em desgraça culmina com um exílio para o “Departamento Q”, uma unidade de casos arquivados recém-criada e lamentavelmente subfinanciada, relegada para a cave poeirenta da sede da polícia de Edimburgo. Este departamento é, na sua essência, uma “manobra de relações públicas”, concebida para desviar a atenção do público das falhas sistémicas e da escassez de orçamento de uma força policial ansiosa por marginalizar o difícil e cínico Mørck. O departamento é uma manobra de relações públicas, para distrair o público dos fracassos de uma força policial com poucos recursos e em declínio, que se contenta em ver-se livre dele.

No entanto, o que começa como um depósito burocrático transforma-se inesperadamente em algo mais potente. Mas, mais por acidente do que por desígnio, Carl começa a formar um grupo de desajustados e marginalizados que têm tudo a provar. A narrativa realmente ganha fôlego quando “o rasto completamente frio de um proeminente funcionário que desapareceu há vários anos começa a aquecer”. Este caso central, que envolve o desaparecimento de uma política de alto perfil chamada Merritt Lingard (interpretada por Chloe Pirrie), reflete o enredo de Departamento Q – A Mulher na Arca (título original dinamarquês: Kvinden i buret), o primeiro romance da série de Adler-Olsen, o que sugere fortemente que este é o foco principal para a temporada inaugural. Esta investigação reaberta força Mørck a reencontrar os seus talentos investigativos latentes, impelindo-o novamente a “agitar as águas e a recusar-se a aceitar um não como resposta”.

Dept. Q aprofunda os demónios pessoais e a culpa omnipresente de Mørck, que formam um pilar central da narrativa. A natureza sombria dos casos arquivados proporciona um terreno fértil para explorar caminhos para a redenção, não só para Mørck, mas também para a sua incipiente equipa de “desajustados”. A série lança também um olhar crítico sobre as falhas institucionais dentro de uma “força policial com poucos recursos e em declínio”, destacando as realidades frequentemente frustrantes do trabalho policial. O próprio ambiente do departamento, confinado à cave, torna-se um símbolo potente. Inicialmente, representa o ponto mais baixo profissional e pessoal de Mørck, um lugar onde a instituição tenta enterrar os seus problemas e pessoal inconveniente, mas paradoxalmente transforma-se. Este isolamento, longe da azáfama diária e das maquinações políticas dos pisos superiores, permite um espaço único onde “o verdadeiro trabalho policial pode realmente acontecer”, fomentando uma unidade pouco convencional, mas surpreendentemente eficaz, dedicada a desenterrar verdades há muito enterradas. É um “exílio com benefícios”, onde aqueles descartados pelo sistema encontram um novo propósito, ainda que pouco ortodoxo.

Dept. Q - Netflix
Dept. Q – Netflix

O elenco

A liderar a investida contra os crimes esquecidos de Edimburgo está Matthew Goode como o Inspetor Chefe Carl Mørck. Descrito como “insolente, mas brilhante”, “impetuoso, mas espirituoso” e “emocionalmente marcado”, Mørck é um homem definido pelo seu trauma e pela sua fachada abrasiva. O seu “sarcasmo afiado” afastou-o dos colegas. Scott Frank, que escreveu o papel especificamente a pensar em Goode, viu nele um ator que conseguia transmitir “uma inteligência inegável com a sua dureza, mas que também podia ser emocional sem ser sentimental”. Goode, frequentemente reconhecido por personagens mais elegantes, submete-se a uma significativa “transformação crua” para este papel, despindo a sua persona polida por algo “cru e desconfortável”. A acrescentar outra camada ao estatuto de forasteiro de Mørck está a sua identidade inglesa no seio do ambiente escocês, uma escolha deliberada de Frank para amplificar a sua alienação, derivada de um divórcio amargo com uma ex-mulher escocesa.

Mørck não está sozinho na cave. Gradualmente, reúne uma “equipa desconfortável, mas eficaz”, um grupo de indivíduos que são, eles próprios, forasteiros: Alexej Manvelov como Akram Salim, a contraparte na série do indispensável Assad dos romances, Salim é um agente da polícia sírio que, após fugir para a Europa, se torna um parceiro integral, leal e silenciosamente misterioso de Mørck, com um passado não totalmente claro que aumenta a sua presença convincente. Leah Byrne é DC Rose Dickson, uma jovem detetive perspicaz, sensata e determinada que, tendo experienciado um esgotamento nervoso, procura a redenção e a oportunidade de provar o seu valor no Departamento Q, recusando-se a deixar sem resposta a atitude difícil de Mørck. Kelly Macdonald interpreta a Dra. Rachel Irving, uma terapeuta da polícia perspicaz e de raciocínio rápido, encarregada de avaliar agentes para o serviço na linha da frente; ela rapidamente percebe as defesas de Mørck, compreendendo o seu trauma e complexo de superioridade, e desenvolvem uma ligação significativa ao longo da série. Chloe Pirrie é Merritt Lingard, uma “procuradora implacável e ambiciosa” com um passado problemático, cujo caminho se cruza com o de Mørck quando o seu desaparecimento, ocorrido anos antes, se torna o primeiro caso arquivado importante para o Departamento Q, tornando-a a vítima central cujo destino a equipa tem de descobrir.

Outras figuras chave que povoam este mundo incluem Jamie Sives como o Inspetor Chefe James Hardy, o ex-parceiro de Mørck cuja paralisia atormenta Carl; Mark Bonnar como o autoritário Procurador-Geral Stephen Burns; Kate Dickie como a Superintendente Chefe Moira Jacobson, a superior que estrategicamente coloca Mørck no gabinete da cave; e Shirley Henderson como Claire Marsh.

A dinâmica entre estes “desamparados e marginalizados” e “desajustados e rebeldes” que “têm tudo a provar” evolui para uma reinvenção crua do tropo da “família encontrada”. Embora longe de serem calorosos ou sentimentais, o seu exílio partilhado e a natureza exigente do seu trabalho forjam um laço inegável e pouco convencional, proporcionando um núcleo emocional que vai além dos elementos processuais da resolução de crimes.

Do bestseller dinamarquês às ruas perigosas da Escócia: A arte da adaptação

Dept. Q tem origem na série de renome internacional “Departamento Q” (Afdeling Q) do autor dinamarquês Jussi Adler-Olsen, uma coleção de dez romances (com um décimo primeiro recentemente publicado em dinamarquês) que cativaram leitores em todo o mundo. O primeiro romance, Kvinden i buret (2007), conhecido em Portugal como Departamento Q – A Mulher na Arca, estabelece as bases para a personagem de Mørck e a unidade de casos arquivados, focando-se no desaparecimento da política Merete Lynggaard – uma trama refletida na série com Merritt Lingard. Estes romances já foram adaptados com sucesso numa série de filmes dinamarqueses, o que atesta a sua potente qualidade cinematográfica.

Uma decisão criativa fundamental para a série da Netflix foi a transposição do cenário por Scott Frank de Copenhaga, Dinamarca, para as ruas atmosféricas de Edimburgo, Escócia. Frank explicou o seu raciocínio. Percebeu que adaptar la ficção criminal dinamarquesa para um público global de língua inglesa necessitava mais do que uma simples tradução; exigia uma “transformação cultural”. A “grandeza gótica” da cidade, as suas “vielas medievais e terraços georgianos oferecem o cenário perfeito para este tipo de ficção criminal gótica”, substituindo a melancolia nórdica por uma distinta melancolia escocesa.

Esta adaptação é claramente concebida como uma reinterpretação, não simplesmente uma relocalização. O interesse de duas décadas de Frank no projeto assinala um profundo compromisso com o material original, equilibrado com uma visão artística clara. A escolha de Edimburgo foi deliberada, com o objetivo de aproveitar uma atmosfera única e melancólica, distinta do tradicional noir escandinavo. A participação de uma equipa de argumentistas multicultural, que inclui escritores escoceses como Stephen Greenhorn ao lado de Frank e Chandni Lakhani, assegura que esta nova visão esteja enraizada na autenticidade cultural, alcançando uma “tradução cultural sem traição”. A série, portanto, visa oferecer uma nova perspetiva, um híbrido que possa atrair tanto os fiéis seguidores da obra de Adler-Olsen como os recém-chegados atraídos por um drama criminal convincente.

A realização de Scott Frank

Scott Frank é a força motriz por detrás de Dept. Q, atuando como criador, produtor executivo e argumentista ou coargumentista de todos os nove episódios. Realizou também seis destes episódios, incluindo os dois primeiros, cruciais, assegurando uma visão coesa e singular desde o início. O currículo de Frank é inegável, com projetos da Netflix aclamados pela crítica como Gambito de Dama e Godless no seu historial, juntamente com créditos de argumento aclamados por filmes como Logan e Minority Report – Relatório Minoritário. Só esta trajetória já gerou uma considerável antecipação por Dept. Q.

Este projeto é uma paixão de longa data para Frank, que esteve a “ponderar uma adaptação das obras de Adler-Olsen durante vários anos”, remontando mesmo a duas décadas. O seu compromisso consolidou-se quando conheceu Jussi Adler-Olsen durante as filmagens de Um Passeio Entre As Lápides em 2014, altura em que o autor lhe confiou pessoalmente a tarefa de levar o Departamento Q ao ecrã em inglês.

Frank reuniu uma formidável equipa de argumentistas, colaborando com Chandni Lakhani (conhecida pelo seu trabalho em Black Mirror), o escritor escocês Stephen Greenhorn (River City, Doctor Who) e Colette Kane. Esta “equipa de argumentistas multicultural da Netflix” foi concebida para fundir a habilidade de Lakhani para a complexidade psicológica com a autenticidade local escocesa de Greenhorn e as perspetivas de Kane sobre a dinâmica institucional britânica, criando uma narrativa que é simultaneamente ressonante a nível internacional e profundamente enraizada no seu ambiente.

No cerne da filosofia narrativa de Frank encontra-se uma “abordagem centrada na personagem”, com grande atenção à forma “como pessoas feridas navegam por circunstâncias impossíveis”. O seu objetivo com Dept. Q é oferecer um “drama criminal psicologicamente brutal” que explore sem concessões a “corrupção institucional”. Este “Efeito Scott Frank” – a sua habilidade para pegar em material de género e elevá-lo com uma caracterização profunda, um estilo visual impactante e profundidade temática – sugere que Dept. Q transcenderá as convenções de um drama processual policial comum. O seu profundo investimento pessoal e controlo criativo prático prometem uma série meticulosamente elaborada e que convida à reflexão.

Onde ver “Dept. Q”

Netflix

Deixe um comentário

Your email address will not be published.