O Relativismo na Era da Internet

Veronica Loop

Muito se tem discutido sobre o relativismo, uma corrente filosófica que simplificadamente defende a ideia de que tudo é relativo. Contrapõe-se ao objetivismo ao afirmar que existem tantas verdades quanto indivíduos, em vez de uma única verdade geralmente associada a uma visão monoteísta. Este debate sobre “a verdade” remonta a tempos antigos, com filósofos como Aristóteles e Platão a mergulharem profundamente na questão.

No entanto, nos dias de hoje, a discussão assume uma nova forma. Computadores e inteligências artificiais (IA) estão na vanguarda da busca pela “verdade” num universo repleto de possibilidades quânticas, universos paralelos e avanços tecnológicos que gradualmente ultrapassam as capacidades humanas.

Não nos iludamos, senhoras e senhores e todos os tipos de pensadores artificiais: a IA já marcou presença e processa dados a uma velocidade antes inimaginável, graças ao Big Data. Empresas acumulam informações sobre comportamentos para realizar estudos de marketing extensivos e algo assustadores, alimentando esses dados às IA para moldarem preferências e, supostamente, facilitarem a vida cotidiana com anúncios “mais saudáveis”.

É um tipo de relativismo moderno, baseado em algoritmos que certamente deixaria os antigos gregos perplexos, mas ansiosos por decifrar, provavelmente com a ajuda de regras pitagóricas. E a função do Big Data e da IA nas empresas modernas? Maximizar lucros – essa é “a sua verdade” e o propósito final.

Num mundo onde predomina quem mais lucra, coloca-se na corrida dois competidores improváveis: um ser humano, com suas frustrações, vida familiar e problemas de saúde, contra uma máquina capaz de processar milhões de operações por segundo na busca por soluções lucrativas.

Sem querer entrar em demasiados clichês sobre este cenário: o ser humano perde quase instantaneamente antes mesmo de começar a pensar numa estratégia. A máquina, com a sua capacidade de hoje, supera-nos amplamente, encontrando formas mais eficientes e lucrativas de resolver praticamente qualquer problema.

Esta é a realidade das empresas que dominam a tecnologia IA.

Quem deveria, então, ter as rédeas da tomada de decisões? O indivíduo, indubitavelmente humano e cheio de imperfeições, ou a máquina, com sua capacidade extraordinária de processar dados e gerar lucro? A escolha parece óbvia e, sinceramente, eu faria a mesma se estivesse numa posição de tal poder e influência.

Um executivo de uma grande corporação certa vez sugeriu que era necessário pressionar “esse botão”, aquele que desencadearia a corrida das IA sem volta atrás. Se não fossem eles, seriam outros. Assim, o botão foi pressionado, pois a corrida já estava em curso, e era imperativo não apenas participar mas liderar, num contexto onde a participação humana parece meramente simbólica.

Este artigo, ao passar pelos filtros da internet, será categorizado e posicionado em algum lugar em um espectro que vai do esquecimento à viralidade.

E quanto lucro este artigo gerará? Nada, zero, seja em dólares ou em coroas escandinavas. Assim, já sabemos a decisão que a máquina tomará e o que ela escolherá oferecer.

Porque, no fim das contas, o negócio deve continuar a avançar.

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Veronica Loop é a diretora-geral da MCM. É apaixonada por arte, cultura e entretenimento.
Contacto: veronica (@) martincid (.) com
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